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07/04/20

Perder 0,003% do salário te incomoda?

Números são exatos, mas também são relativos. Dois mais dois será sempre 4, mas 4 é praticamente nada comparado a 4 milhões. Essa introdução foi para abordar a maneira como autoridades e mídia usam os números para que as pessoas façam o que eles acham necessário fazer.

Um número que foi comentado incessantemente como "um marco importante" na pandemia do coronavirus é o de um milhão de casos. Nossa! Um milhão! Para mim, não é absolutamente nada dentro do universo de 6 bilhóes de pessoas habitando o planeta. Significa que 5.999.000.000 de pessoas passaram longe do virus.

Ou, falando como os portugueses, 5.999 milhões não foram afetados.

A mídia adora números porque eles jogam a percepção das pessoas para onde ela quer. Todo mundo falou no um milhão, que é a soma de todos os casos no mundo desde o início da pandemia. Ninguém esclareceu que este não é o número de casos atuais, em andamento. O número era 780 mil na sexta 3 à tarde. O resto já foi encerrado.

Outro dado que ninguém na mídia, na OMS nem nos governos revela para a população assustada é o de que, dos 780 mil casos em andamento, 743 mil não tem sintoma algum ou tem sintomas leves, como um resfriado. Do "um milhão" de casos, apenas 38 mil pessoas estão com sintomas graves ou internadas, 5% dos casos ativos.

Mas "um milhão" impressiona mais.

Vamos pegar o dado mais assustador de todos, o das mortes na Itália. Na sexta eram 14.681. O número é triste, chocante, porque uma morte já é morte demais. Porém precisa ser colocado em perspectiva. 15 mil pessoas, já arredondando, são apenas 0,03% da população da Itália, que é de 60 milhões. Repetindo, 0,03%.

Dezenas de doenças já mataram muito mais gente na Itália e no mundo neste ano. O número de casos no Brasil, que na sexta era de pouco mais de 8 mil, precisa ser visto em detalhe. Destes casos, 7.759 estavam em andamento, sendo apenas 296 com sintomas graves ou internação. Esse total de casos é 0,004% da nossa população.

Estávamos, na sexta, com 343 mortes pelas complicações do coronavirus, praticamente todas de pessoas que já tinham outras doenças, eram muito idosas ou sofriam com imunidade baixa. Digamos que todos os 296 casos de pessoas com sintomas graves resultem em morte. Isso elevaria o total para 639 ou... 0,0003% da população.

Já morreu neste ano mais gente em acidentes em casa, de carro, de ônibus, de doenças diversas do que de coronavirus. Não me interprete errado. Não estou dizendo que a gente deve ignorar a epidemia, nem que devemos deixar de lado os cuidados como lavar as mãos, manter distância das pessoas, evitar aglomerações.

Mas é preciso colocar o perigo do coronavirus em perspectiva. Hoje ele afeta 8 mil pessoas no Brasil. Digamos que este número exploda e chegue a 100 mil, dos quais, pela estatística levantada pelo Ministério da Saúde, 3,5% vão morrer. Serão 3.500 mortes, um cenário improvável e, mesmo assim, com menos óbitos que a maioria das doenças.

É muito menos do que as que morrerão em consequência das medidas tomadas para evitar o coronavirus, como fechar todas as empresas, relegando a maior parte da população a viver quase sem dinheiro e confinadas, passando a desenvolver doenças físicas e mentais decorrentes da quarentena, do corte de luz e água, de ficar incomunicável porque cortaram telefone e internet (sim, as operadoras continuam cortando).

Por isso, pense antes de criticar o presidente Jair Bolsonaro por pregar um relaxamento na quarentena. Ele não é favorável a simplesmente reabrir tudo. O que ele defende, e eu também, é uma quarentena racional, é deixar em casa quem precisa, quem é do grupo de risco, não a população toda.

A abertura do comércio é um exemplo. Quantas vezes voce viu alguma loja de Itabuna lotada?

Não me lembro de ver mais que duas ou três pessoas comprando ao mesmo tempo. O fechamento deste comércio não faz sentido nem faz diferença no combate às aglomerações. Escolas, shows, coqueteis, congressos, feiras, comícios, exposições e eventos em geral sim, geram uma aglomeração de pessoas e devem continuar proibidos.

No caso dos shoppings, a maioria das pessoas está circulando nos corredores, afastadas umas das outras, e dentro das lojas o cenário é igual ao do comércio de rua, com poucas pessoas simultaneamente comprando. Se voce olhar a praça de alimentação, vai perceber que as mesas já são afastadas o suficiente para evitar contágio.

O shopping é, inclusive, o local ideal para medir a temperatura de todos, na porta, facilitando a detecção de casos de infecção para colocar a pessoa em isolamento. Bares, restaurantes, lojas de suco e açaí, sorveterias, pizzarias, etc, poderiam ser liberadas com restrições como só manter metade das mesas.

Os bancos poderiam atender também com restrições, evitando a paralisação da economia. Hoje, tem gente com dinheiro no banco sem poder comprar comida, porque os caixas eletrônicos já estão vazios. A abertura das lotéricas aliviou um pouco o fechamento dos bancos, mas gerou mais filas, ou seja, aglomeração de pessoas. Reabrir os bancos diminuiria isso.

Eu sei que voce não queria ler nada disso, que rejeita o que escrevi porque está com um medo incutido em voce pela maneira como a OMS e a mídia tratam o problema. Mas fiz questão de escrever, porque alguém tem que analisar a epidemia friamente, a partir dos dados, dos números, e não da fantasia em torno deles.

O sistema se defende atacando qualquer pessoa que destoe do discurso padrão, definido pela OMS, e não é fácil revelar uma opinião diferente quando a manada tem um pensamento único. Basta ver os ataques contra o presidente e as pesquisas (apesar de confiar pouco nelas). Mas alguém precisava colocar isso em perspectiva.

Desculpe se te incomodei. A intenção é boa.

Posted by at 11:34 PM
Edited on: 11/04/20 12:53 AM
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