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09/08/19

Ter pai, ser pai

Nesta época é inevitável focar nele, mesmo pensando em meu pai, Manoel Leal, o ano inteiro. O Dia dos Pais sempre é um desafio para os filhos. Quando perguntava a ele o que queria de presente, respondia "qualquer coisa" ou "nada" e eu ficava louco.

Com o resto da família espalhado, éramos apenas ele e eu em Itabuna. Por isso eu queria ainda mais achar um bom presente no Dia dos Pais. Não era fácil encontrar uma coisa que fosse agradar e entusiasmar meu pai. Quase todos os presentes que dei foram deixados de lado no dia seguinte.

Raros foram realmente usados por ele e só um fez sucesso, um chapéu típico de Sherlock Holmes que trouxe de Londres. Só depois, quando virei pai de Kira, fui entender. Para nós, pais, nada pode superar o presente de ter uma filha, um filho. Por isso os presentes são irrelevantes.

O importante é a entrega, o beijo, o abraço. Para nós, tanto faz o que está dentro da caixa.

Se antes eu ficava louco tentando descobrir o que dar para meu pai, hoje deixo Kira louca respondendo sempre a mesma coisa quando ela pergunta o que eu quero: "uma camiseta preta ou azul marinho, lisa".

No caso de meu pai, não adiantava analisar o que ele gostava. O prazer dele era fazer o jornal A Região e bater papo com os amigos, fosse no café da parte baixa da Praça Adami, no Baby Beef ou na cabana do Guga, um grande amigo dele, na praia. O resto não importava muito.

Tenho estes dois prazeres em comum com ele, mas muitos outros, como música, rádio, livros, séries e filmes, videogames e viagens. Seu pai com certeza tem vários interesses também, mas desista de achar o presente ideal. Isso ele já tem: voce.

Outra diferença que tenho em relação a meu pai é o nível de "chameguice". Ele foi criado por um pai que nunca demonstrava afeto ou carinho porque, por sua vez, foi criado assim também. Então, o meu não vivia me abraçando, mas eu sempre senti seu amor por mim.

Um amor reforçado pelos comentários dos amigos dele. Me diziam sempre que meu pai, quanto eu não estava por perto, vivia falando de mim cheio de orgulho. Eu sou muito parecido com ele, mas não nisso. Adoro beijar e abraçar minha filha, ficar agarrado batendo papo.

Meu pai teve o primeiro filho com 30 anos, eu com 42. Achava que nunca saberia criar filhos, que não saberia ser um bom pai. No fim, descobri que foi a melhor coisa de toda a minha vida (e minha vida foi plena de coisas boas) e que ser pai não é tão difícil.

Hoje acho que todos os alertas que me davam eram trolagem dos amigos. Pintavam mil dificuldades em lidar com um bebê. Não tive nenhuma. "Mas quando comçar a andar..." Kira começou a andar e não vi nada de problema. Depois era "quando estiver na escola", "quando virar adolescente", etc.

Vai ver que eu sou uma exceção, que dei sorte. Mas realmente só tive momentos felizes sendo pai, sem nenhum problema. Até achava que a diferença de idade podia ser ruim, mas descobri que minha cabeça é bem mais jovem e que é possível gostar das mesmas coisas.

Graças a ser pai descobri atrações na tv que nunca imaginei, como Backyardigans, Dora Aventureira, As Pistas de Blu, Padrinhos Mágicos, Bob Esponja, Drake e Josh, Sam & Cat, Hanna Montana, iCarly, Zoey 101, Big Time Rush, Kenan & Kell, Lazy Town, Feiticeiros de Waverly Place, Boa Sorte Charlie e, minha favorita, Phineas & Ferb.

Sinto todo dia como Dia dos Pais, de verdade. Um privilégio.

Posted by at 9:50 PM
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